quando já não procurava mais pude, enfim, nos olhos teus vestidos d'água me atirar tranquila daqui. lavar os degraus, os sonhos e as calçadasnas mesmas gavetas onde guarda recordações em formas de meias – onde algumas você usa muito e outras nem tanto-, você procura uma roupa que julga ideal para a festa do fim de semana
age como se não conhecesse cada cantinho do seu quarto, do
seu mundo. até tentam te convencer a mudar, mas ninguém nunca mexe em nada,
tudo está no lugar de sempre, no entanto, você insiste em perguntar para o
vazio sobre quem mexeu nas suas coisas, quem desarrumou tudo, que bagunça
fizeram
cada peça escolhida é uma olhada ao espelho. com a cabeça
reprova todas as opções, esquecendo que roupas funcionam como fantasias, que
nos maquiam para determinados momentos, portanto, indifere até o mesmo o fato
de você estar ou não de roupa, o teu corpo, a tua personalidade será a mesma
e enquanto você procura a roupa ideal eu me lembro de um dia
qualquer da nossa história.
foi quando você se vestiu de chuva.
era noite, voltávamos de um passeio qualquer e após eu te
revelar algumas passagens do dia, começamos a nos molhar, ou a nos benzer,
dependendo do modo se interpreta. A tal da chuva começou a agir de forma a nos
silenciar instantaneamente, e você veio com as suas mãos sobre meu rosto
com a mão, afastei sua franja molhada que cobria um dos seus
olhos, seus lábios se esqueceram de fechar e eram inundados por partículas de oxigênio
e hidrogênio, e ao mesmo tempo tentei me esforçar pra falar algo relevante
não consegui
tamanho era o encanto. não consegui. tamanha era a vontade
de eternizar aquele momento temperado de gotas do céu. não consegui. tamanho
era o calor, embora molhado, que me invadia naquele momento. não consegui
você tem a habilidade de transformar instantes humanamente
normais em acontecimentos sentimentalmente históricos
e eu? ah eu sou um admirador da beleza muda, ocasionalmente
melódica, também refletida através de notas musicais que desenham frases dos
dias que queremos ter, que queremos viver, dias que elucidam vontades do
coração e iluminam as cavernas cerebrais mais longínquas
além de ir, você consegue me levar além, e isso é um talento
indescritível
ora, eu não sou daquele que me rebaixam para qualquer olhar,
ou que me vendo a qualquer sorriso amarelo. eu preciso perder um pouco o ar pra
poder comprovar que realmente faz sentido viver este ou aquele determinado
AGORA
volto para a tua procura pela vestimenta ideal.
me fascina o fato de você não se cansar em procurar a
perfeição, ao mesmo tempo que me agoniza, pois eu sei que você não precisa
procurar algo que já possui. o simples é o seu máximo
mesmo assim, permita-me sugerir:
vai chover, vista um vestido